segunda-feira, 11 de maio de 2015

PÁGINAS DA MEMÓRIA

Folheia páginas da memória
amareladas pelos bafejos
ácidos, fortes do afoito tempo.
Registros quase invisíveis, baços
parecem ciscos bailando aos giros
se deglutindo e regurgitando.

Momentos pássaros no alto céu
que de repente laceram asas
e caem mortos na terra dura...
Momentos tétricos de alma em breu
subitamente iluminam vida
e alcançam ares de puro gozo...

Saudoso segue passando as páginas
do grosso livro de sua história,
até que, muito espantado, nota
que quanto mais se aproxima o fim,
embora avulte-se a nitidez,

mais feio fica o que está escrito.

A BORBOLETA

Ah, borboleta,
que ao ser tocada
pelo pesado
dedão do tempo...

Apaga as cores,
fica parada,
mostrando as asas
tão desbotadas
ao débil vento.

A borboleta
de um dia ledo,
que foi ferida
por tempo fero...

Perdeu a graça...
Perdeu o viço...
Perdeu as flores...


Virou saudade.

LUZ SERENA

Ah, se eu pudesse acalantar o meu enfado
nesses teus laços, no teu leito, tua trilha,
sorver a brisa que desliza no meu fado
de tão somente imaginar-te a maravilha...

Ah, se eu pudesse abandonar-me em tua ilha
e desnudar-me em tal recanto abençoado,
saltar ao sol que há no teu corpo, que rebrilha
e que me aquece e me arrebata extasiado...

Ah, se eu pudesse acarinhar-te o delicado
e nos meus mares conduzir a tua quilha,
voar bem alto como voa todo amado,
sugar-te a água, ir beber em tua bilha...

Mas minhas asas não alcançam, tão pequenas,
o céu de estrelas em que moras, luz serena!